segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Chapa quente


"... não aguento mais. Minhas pernas estão moles, minha boca está seca desde o segundo quilômetro e o ritmo está muito lento. Não entendo o que está acontecendo. Não vou correr mais prova nenhuma. Os ‘setenta’ da inscrição eu joguei no lixo. Que ilusão...".
Depois de uma longa semana, recheada de muito trabalho e com exaustivos treinos de qualidade, chegou ao sábado, dia do tão esperado longão, o treino mais importante para quem almeja findar uma maratona.
Ela vem de um recomeço. Após nove anos de uma bela história, escrita entre as dezenas de pódios, nas corridas de média e longa distância, parou! Deu-se um tempo e, agora, reconquistou o prazer de desfilar seu talento e graça pelas ruas de Curitiba e do país, para a nossa alegria.
O retorno foi registrado em grande estilo, com uma bela maratona na cidade maravilhosa, em meados deste ano. Apesar do breve período de preparação, fez um ótimo tempo.
Então, surgiu a ideia de realizar uma nova maratona, agora em casa.
A previsão meteorológica para o sábado era otimista, alertava sobre tempo firme.
A saída foi um pouco tardia, por volta das 10h, já com sol a pino e calor beirando os 30º C.
Lá foi ela, destemida e animada, para os seus 28 quilômetros, fazendo planos e sorrindo, até o segundo quilômetro, quando o "carburador" começou, literalmente, a ferver — e ainda havia muito chão pela frente.
O sol era obstáculo implacável, derretia o entusiasmo e queimava as energias.
A cada quilômetro, a situação piorava e a animação dava lugar à revolta e ao desânimo. Não havia água que saciasse. Quando ganhou uma caixinha de água de coco, geladinha, não largou mais, até tomar a última gota (fiquei só na vontade...).
Era visível na sua expressão, a cada passada, a batalha sendo travada entre a mente e o corpo, que, com a exaustão física, implorava por uma parada — ou pela desistência. Porém, esta guerreira do asfalto é de espírito nobre, não se permite tal hipótese e seguiu firme, então, já com vinte e tantos quilômetros. O termômetro marcava 36º C rumo ao ponto que determinou desde os primeiros passos: o final do treino.
Em algum momento, na vida e na corrida, somos seduzidos a desistir, mas temos que estar preparados para fazer a diferença.

Parabéns, meu amor. Tenho muito orgulho de você.
Que venham os próximos quilômetros.
Beijos, minha linda.

4 comentários:

  1. Mas olha, que com um treinador assim... fazia até... sei lá. Comrades. Muito lindo o texto. Para dar inveja em todas as outras corredoras. Hehe. Beijo queridos.

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  2. Muito gratos pelo elogio!
    Meu treinador é um poeta!
    Quanto mais sofrimento nos treinos, mais inspirada é a sua escrita.

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  3. A beleza e a sutileza das palavras denotam a cumplicidade entre o treinador e sua dileta atleta.

    Com agua de coco e com afeto...

    Saudades,
    Elizete

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  4. Magia, Magia, Obrigado por inspirar e transpirar o amor...Desfile dos artistas das ruas e do amor ...Parabéns.

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